Crescimento dos Desviados

  

            Em certa corrente do protestantismo existe uma soberba ufanista, um triunfanismo exacerbado sobre o crescimento evangélico no Brasil. As pesquisas são inequívocas. Segundo o senso do IBGE de 2000, são 15,45% da população. Segundo uma pesquisa inédita do Centro de Políticas Sociais da FGV/RJ, com base em dados do IBGE, a proporção de católicos manteve-se estável em 2000 e 2003: 73,8% do total de brasileiros. Os evangélicos passaram de 16,6% para 17,9% (1).   De acordo com o Instituto Datafolha, os evangélicos já chegam a 22% da população, ou seja, cerca de 40 milhões de pessoas (2).

 

            Entretanto, é terrível a quantidade de crentes evangélicos desviados das igrejas protestantes. Vejamos a matéria sobra o assunto na revista protestante Igreja, edição Nº 11, p.65.  “Em um país onde o número de crentes já passou de 40 milhões nem sempre a igreja presta atenção a outro contingente que cresce sem parar – o dos “desviados”, assim considerados aqueles que já tiveram passagens, ou até foram membros, de congregações evangélicas, mas que hoje encontram-se fora do rebanho.

            Não há dados seguros e nunca foi realizada uma ampla pesquisa sobre a questão, mas especialistas que trabalham com o segmento arriscam uma quantidade assustadora de gente nesta condição: eles seriam nada menos que 50 milhões de almas, ou seja, mais do que o número de praticantes da fé protestante”. “Explica o pastor Sinfrônio Jardim Neto que vem trabalhando com afastados – “desviados” – desde 1994, ele estima que uma igreja que tenha agora 200 membros, já viu passar por seus bancos, nos últimos dez anos, outras 400 pessoas, que agora estão fora de qualquer dominação – só por aí já dá para se avaliar o tamanho do problema”. Há um grande investimento em treinar pastores e líderes.

 

             Os custos são caríssimos: pregadores internacionais, hotel de luxo tecnologia de ponta e muita vaidade, porém, tudo isso fora dos planos de Cristo. Quem explica melhor é o pastor Osmar Ludovico da Silva: “Existe na Igreja Evangélica contemporânea uma preocupação muito grande em capacitar e treinar pastores, líderes e missionários. É um anseio legítimo, já que muitos obreiros tiveram uma preparação acadêmica e técnica deficiente, e também porque, como em todo campo de atividade humana, a obra de Deus tem a necessidade de constante atualização e aprofundamento – isto é, de uma educação contínua. No entanto, na maior parte do tempo, os programas de treinamento e capacitação voltados para dirigentes cristãos são baseados em técnicas seculares. O objetivo de tais procedimentos é aprimorar habilidades, aumentar o desempenho maximizar os resultados. Ou seja, conceitos de mercado. A proposta e a  linguagem destes programas é, geralmente, distante do projeto de Jesus de Nazaré” (3).   E a Bíblia? Fala-se muito que os crentes lêem a Bíblia. Não é verdade.

             O único levantamento realizado no Brasil foi em 1998, pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), apurou que 60% dos evangélicos nunca leram integralmente o Novo Testamento. Exorta o pastor metodista Paulo Roberto Garcia: “Creio que seja hora das igrejas retomarem o princípio que fundou a fé cristã, valorizando a leitura e o conhecimento da Bíblia” (4). Na terra do “reformador” Martinho Lutero, nem todos que diziam obedecer a Sagrada Escritura tomaram posição contrária às guerras.  Pouco depois da Segunda Guerra Mundial, Martin Niemöller, um pastor protestante alemão, escreveu: “Quem quer culpar a Deus pelas [guerras] não conhece, ou não quer conhecer, a Palavra de Deus... [As] igrejas cristãs têm-se prestado, ao longo das eras, a abençoar guerras, tropas e armas e... oraram de modo nada cristão pela destruição dos seus inimigos na guerra. Tudo isso é culpa nossa e culpa dos nossos pais, mas de modo algum a culpa é de Deus” (5).

Conclusão

              Nós sabemos que quantidade não tem nada ver com qualidade abissal. Alguém já disse: “A massa é um monstro horrível, os indivíduos são dignos de compaixão”.  Estudiosos em História da Igreja no Brasil sabem que as nossas comunidades estão em crise e crise profunda. Os conflitos, os cismas e as heresias provam que muitas igrejas cristãs estão doentes e morrendo.      A teologia da prosperidade, a onda de titulação de “apóstolos”, G12, evangelho e música comercial gospel e a Nova Era têm derrubado os fundamentos doutrinários de muitas comunidades cristãs. Afirma o pastor batista Estevam Fernandes: “O grande perigo é que o próprio meio evangélico, à medida que foi crescendo e ampliando a sua presença no tecido social, foi também construindo uma identidade mundana” (6).  “Enquanto os membros esperam um milagre, os pastores faturam para deslancharem seus projetos megalomaníacos. A intolerância recrudesce e novos preconceitos confirmam que os evangélicos permanecem proselitistas. Antes de sentirem raiva do papa, os evangélicos deveriam se perguntar o que estão fazendo para honrar o nome de cristãos”, diz o pastor assembleiano Ricardo Gondim (7). O desejo sincero do meu coração é que não tenhamos mais crentes desviados e nem católicos nominais, e sim, cristãos autênticos para que o mundo veja em nós a luz de Cristo, o amor ao bom Deus e ao próximo, Mt 5,16; Hb 12,14. Os verdadeiros cristãos pelos seus testemunhos têm a missão de converter o mundo para Nosso Senhor Jesus Cristo.

 

 

Pe. Inácio José do Vale Pesquisador de Seitas Professor de História da Igreja Especialista em Ciência Social da Religião

E-mail: pe.inaciojose.osbm@hotmail.com

 

Referências   (1) Veja, 02/05/2007, p.49. (2) Eclésia, Nº 121, p.36. (3) Eclésia Nº 120, p.58. (4) Igreja, agosto-setembro, 2007, p.27. (5) Ach Gott Von Himmel sieh darein – Sechs Predigten, de Martin Niemöller, 1946, pp.27-8. (6) Enfoque, fevereiro de 2006, p.18. (7) Ultimato, novembro-dezembro de 2007, pp. 44 e 45.